O primeiro poema que escrevi, nunca foi escrito. Um
emaranhado de pensamentos que remoí madrugada adentro.
Era algo sobre a minha primeira namorada e mãe do meu filho.
Sobre o que poderíamos ter sido, o que fomos, e jamais seríamos.
Mas não passou disso. Conjecturas entre remexidas na cama esperando
o sono chegar. Tudo o que queria era que minha mente apagasse e o sono
vencesse.
Tudo se materializa a partir do pensamento. Primeiro
decidimos que queremos algo. Depois fazemos.
Os pensamentos queriam sair. Eu não permitia. Colocar tudo
aquilo pra fora seria deixar que existissem.
Palavras no papel são constatações fáticas. Pensamentos são
apenas fantasmas. Tiram-nos a sanidade,
mas não existem de verdade. Vagueiam
pelo sótão, fazem tábuas ranger. Assustam, até mesmo gritam.
Mas enquanto não atingirem o papel, eles não existem.
O pior sempre será o plano físico. Cada letra, vírgula, um
mísero rabisco que a caneta faça. Ainda que em uma surrada folha arrancada de
um caderno. Será materialização.
O mundo físico é o que tememos de verdade. Aceitar cada um
dos medos, limites, falhas e anseios. Deixá-los ali, eternizados em uma folha rasgada,
isso sim, é o que pode nos consumir.
Afinal de contas, pensamentos são apenas fantasmas. E
fantasmas podem ser esquecidos. Afogados, tragados ou suprimidos.
Mas a tinta no papel não, ela sempre envolve a ruptura da
inexistência. Talvez, a mais dolorosa das partidas.
Escrito em 26/1/2017 ao som de Sia, Breathe me e
recordando daquele poema que eu nunca escrevi e de todos aqueles que nunca
salvei.
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